Entrevista - 06

1-     Conte-nos um pouco de sua trajetória na dança.

                        Eu sinto que nasci dançando. Aos três anos entrei para o “baby class”, aulas de balé voltada para criancinhas. Nunca mais parei e com mais ou menos doze anos de idade eu já sabia que queria ser bailarina. Naquela época Botucatu não tinha bons professores de dança. Foi quando a Flavia Fazzio mudou para a cidade. Ela foi minha mãe da dança. Aprendi muito com ela e com o grupo Oficina da Dança (que atua até hoje e tem conquistado prêmios e feitos incríveis!). Tenho muito história com esse grupo, inclusive muitas apresentações no colégio La Salle! Sou muito grata por isso!! Fiz muitas aulas de balé e dança contemporânea nessa época. Aos 18 anos ingressei para o curso de dança na Universidade Estadual de Campinas e me profissionalizei. Desde então venho me dedicando cada vez mais à dança contemporânea e às danças aéreas/circo (que  também é uma grande paixão). Já apresentei em muitos lugares do Brasil. Viajei por muitos estados e conheci teatros, cidades e artistas incríveis deste país! Sempre dançando! Com meu trabalho também pude viajar para o exterior para apresentar e estudar! Sou muito grata ao universo por poder fazer o que amo e colher os frutos de tanta dedicação!

                        Quem quiser se aproximar mais, teu tenho um portfólio virtual com fotos e vídeos dos meus trabalhos: http://senteovento.com

                        E também dou aulas em Botucatu, de circo e de dança contemporânea no Mirante das Artes. Aqui está no site para quem se interessar: http://mirantedasartes.com . Todos estão convidados para fazer uma aula experimental!

2-     Como você vê a dança no cenário artístico nacional contemporâneo?

                        A dança no Brasil mudou muito de uns dez anos para cá. Antigamente, só existia visibilidade para as grandes companhias de dança (e ainda assim muito pouca). Os pesquisadores, artistas e grupos independentes não tinham apoio e produziam com seus próprios recursos financeiros. Isso é uma realidade muito ruim para o cenário cultural de um país, pois para poder financiar um trabalho de arte, nós artistas precisamos ter um outro trabalho para poder “bancar” nossa criação. Isso faz com que não nos dediquemos 100% à produção artística. Com isso, se perde muita qualidade nos trabalhos.

                        Hoje esse cenário mudou um pouco. Contamos com editais municipais, estaduais e federais que financiam os artistas para que eles produzam arte. Apesar de estar melhor, ainda é muito pouco pela demanda de um país que vem crescendo tanto como o nosso.           

3-     Você acredita que exista preconceito com as artes contemporâneas no Brasil? Por quê?

           

                        Eu não diria preconceito. Eu acredito que faltou (e ainda falta) muito uma educação artística de qualidade em nosso país. O conceito que “temos” de arte no Brasil, infelizmente está ligado ao entretenimento. Quando entrei na faculdade de dança, frequentemente eu ouvia a pergunta: “- A, mas então você vai ser dançarina do Faustão?”.... rs*

                        E temos artistas incríveis aqui e que são muito mais valorizados no exterior! Quando você está na Europa e fala que trabalha com dança contemporânea, a reação das pessoas é de muito respeito e admiração. No Brasil, 99,9% da população não saberia me dizer nem o que é dança contemporânea!

                        Mais aos pouquinhos, juntos vamos mudando este cenário. É preciso, se quisermos ser um país melhor, com mais dignidade, humanidade e cultura!

4-     Quais são suas influências ao compor um espetáculo de dança?

                        Cada espetáculo tem uma necessidade específica. Neste último, que se chama ENTRE e que apresentei no Colégio La Salle, fui muito inspirada pelo tempo dos acontecimentos das coisas, pela grande interrogação que é a nossa vida, pelas fragilidades dos seres humanos e pela busca por um equilíbrio.

                        Para entender essas questões eu fui ajudada por monges que praticam uma escola espiritual oriental, e que buscam o que eles chamam de Amor Universal.

                        Foi muito bonito ter tudo isso como inspiração! Me ajudou a “me encontrar” enquanto pessoa mesmo. Porque a dança é muito além do que uma educação motora, corporal. A dança é uma educação de vida.

5-     Sabemos que você levou o espetáculo Entre para vários lugares distintos, qual foi sua maior impressão nestes lugares por onde passou? O que mais te marcou?

                        Na verdade, este espetáculo ainda não viajou. Ele acabou de nascer. Sua produção aconteceu com um edital da Secretaria Municipal de Botucatu. Teve estréia em agosto e essa pequena temporada no Colégio La Salle.

                        A partir de agora, vou trabalhar para levar ele para outros lugares. Primeiro São Paulo, que é onde moro atualmente e depois outras cidades e quem sabe países.                   

                        Foi com meus últimos trabalhos que viajei. Um deles é uma dança virtual, que todos podem ver: http://imaterial.net

                        Este trabalho eu fiz com meu marido, o Bruno Kurru, que é artista visual. Em julho deste ano eu participei da Mostra de Processos em Porto, Portugal, apresentando este trabalho. Foi muito legal. Em seu processo também nós fizemos uma viajem incrível para o Chile, onde ficamos em fazendas ecológicas e vivendo em ambientes mais conscientes.

                        E viajei muito com o grupo Maya-Lila (http://mayalila.com.br) do qual faço parte desde 2003. Já estivemos três vezes em Portugal, Espanha, Marrocos e Inglaterra, apresentando e também fazendo cursos e pesquisas de campo.

                        O que mais me marcou, com certeza, foi perceber que apesar de todas as diferenças culturais, sociais, políticas, ambientais, etc.. Os seres humanos são SEMPRE iguais, em todos os lugares. Crianças são sempre crianças... pessoas são sempre pessoas... em qualquer lugar.

6-      Que espetáculo de dança ou grupo você acredita que não podemos deixar de assistir em uma vida?

                        Tem muitos! rs*. Vou citar dois internacionais e dois nacionais.

A coreógrafa Pina Bausch, com certeza! Existe um filme recente que saiu sobre o trabalho dela e sua companhia, o Wuppertall Tanz Theatre. O filme chama Pina e o diretor é o Wim Wenders. O trailer do filme: http://www.youtube.com/watch?v=CNuQVS7q7-A

Também tem o DV8. O trabalho deste grupo é incrível. Aqui tem um trecho do trabalho deles: http://www.youtube.com/watch?v=EayAmhSsBZI  (que tem um ator que não tem as pernas! é muito bonito).

Já mais contemporâneo e aqui de São Paulo, eu gosto muito do trabalho da artista Morena Nascimento. Ela dança na companhia da Pina Bausch e tem um trabalho autoral muito bonito. Um trecho do mais recente trabalho dela, onde dança em um teto de vidro! : http://www.youtube.com/watch?v=qKfDxOuiAEQ

E pra finalizar, acho que todo mundo tem que conhecer o trabalho da artista Laiz Latenek, que é dançarina do grupo musical Pedra Branca. É um trabalho muito diferente e muito bonito. Me inspira bastante!

Pra finalizar quero agradecer o espaço que o Colégio La Salle me abriu,  também a professora Leila pelo acolhimento e por todos os alunos que assistiram a dança e participaram deste trabalho comigo! Muito obrigada e até a próxima!

Atividade proposta:

1- Assista algum dos vídeos do site : http://senteovento.com com a bailarina Marília e

diga o que mais chamou sua atenção. Não se esqueça de indicar qual vídeo assistiu.

2- Faça uma pesquisa sobre dança contemporânea e aponte três características

marcantes desta expressão artística e pelo menos um coreógrafo ou bailarino que

tenha influência em seu trabalho da dança contemporânea.

Espero que todos vocês tenham curtido nossa entrevista da semana e que a dança

contemporânea tenha tocado vocês de alguma forma.

Abraços a todos e bom trabalho!

-